Das coisas que nunca vou perdoar ao Chico Moedas, é que antes mesmo de eu ouvir a música que lhe foi dedicada ele adiantou-se e estragou tudo, deixando a Luísa com o coração estilhaçado em mil pedaços e a toda uma legião de fãs consumida de indignação. Já nem vontade tenho de ouvir a música, que só conheço por ter esbarrado no refrão uma boa centena de vezes nos stories de todos os meus amigos, pois eles assim como meio mundo apaixonaram-se pela melodia e ternura da letra que nada mais é do que uma ode ao amor e a vontade de ser amada.
Fiquei sentida com esse homem que como tantos outros antes dele e certamente muitos mais depois, não soube valorizar a grande dádiva que é ser amado sem freios nem receios. Faz-se cada vez mais raro esse amor desinibido, que transborda e se manifesta em declarações sinceras, sem o mais mínimo temor à vulnerabilidade escancarada.
Embora todos se tenham comovido com a situação da Luísa, ela também foi duramente criticada por ser emocionada demais. Afinal, foram só três meses de namoro e na penúria emocional em que vivemos, isso é praticamente igual a nada.
Porque hoje mais ninguém quer ser intenso. O apego tornou-se motivo de vergonha e passamos todos a ser indiferentes, desligados – blasés. Neste plano, os emocionados – que é como descrevemos aqueles que se permitem viver e demonstrar intensamente o que sentem, estão fadados ao fracasso. E não é mentira. Ser intenso nesse mundo em que todos fingem não sentir nada, é uma tragédia anunciada. E nem sempre é porque falta sentimento no outro, as vezes é só pura vaidade alimentada de egos inflamados que sobrevivem de sensibilidades alheias especialmente quando estas se traduzem em demonstrações espontâneas de afeto e de admiração.
Eles, os indiferentes, demoram para responder mensagens só porque sim. São breves, sucintos, desinteressados. Nunca dão o primeiro passo, estão sempre a espera que o elo mais fraco ceda. São alheios, vivem de um tanto faz que fere e que confunde. São contidos em todas as manifestações de carinho e isso muitas vezes em detrimento do que realmente sentem. Nada do que acabo de descrever são meras suposições – são constatações feitas do sujeito que conheço melhor, eu mesma.
Já quis muito, tive imensa vontade, muito bem-querer – sem nunca ousar demonstrar. Em parte, porque sou naturalmente distante e até fria, é um erro de fabrico – nasci assim. Mas a outra metade é só vergonha e orgulho, alavancado por um ego debilitado que se nutre da vontade bizarra de ajoelhar o outro diante do meu descaso. Porque a indiferença tem disso, embora magoe, funciona também como faísca e ateia atrações incendiárias que ninguém explica, mas que todos já sentimos pelo menos uma vez na vida.
Precisei de distanciamento para me diagnosticar. Porque como diz Saramago e tão bem, “É preciso sair da ilha, para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.” Foi o que fiz, mas só porque tive a sorte e o desgosto de me reconhecer noutra pessoa. Vi-me por fora, provei do meu próprio veneno: o desinteresse dele era proporcional ao meu descaso. Era intransigente na sua reciprocidade: do afeto à indiferença, retribuía com uma precisão milimétrica o que recebia de mim. Pior que isso, é que a minha passividade não lhe comovia e nem lhe despertava a mais mínima curiosidade – pelo contrário.
Durante esse processo que encarei como um castigo difícil mas merecido, descobri que nunca mais na minha vida queria fazer ninguém se sentir assim. Odiei esse descaso que além de domesticar, destabiliza e turva todas as noções que temos sobre nós próprios, pondo em causa as nossas virtudes e o nosso valor.
Mais importante ainda, entendi que só faz sentido estar com alguém – independentemente da seriedade e duração da relação, se for para experienciar e proporcionar afeto, ternura e cuidado nos seus exponenciais máximos.
Sou emocionada sim e vivo para mimar e ser mimada, pois ainda que seja só um dia – quero que seja o melhor dia de sempre.
Hoje, a falta de interesse desinteressa-me, já não me empolga mais e essa forma de encarar a vida proporciona uma seleção natural de quem fica e de quem vai. Ao mais mínimo sinal de desentusiasmo, desapareço. Não interessa se gosta, mas não demonstra, se quer muito, mas não sabe dizer – não há tempo nem tolerância para gente rasa, que vive desligada das suas emoções.
Então emocionada sim, porém, lúcida.
A sorte de me ter nessa versão está reservada a quem vibra na mesma frequência que eu.
Um texto sobre o que eu penso e me identifico, nunca mais tinha lido algo tão impactante e real.
Senti cada letra, talvez por ser algo que temos vivido nos últimos tempos, somos todos egoístas ao ponto de acharmos que o “certo” é errado. 🥺
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